Quem cala consente, e ela
(mas teria de ser ela, não havia mais ninguém?)
não calava nem consentia.
Mesmo correndo o risco de irritar o irritável
Diogo Vaz Pinto, recusava-se a pertencer
a isso que via designar como
o perfil mais geral do escritor português.
O perfil? E porque não uma imagem frontal,
na coragem de quem olha suportando os olhos
de quem é olhado?
E porquê geral e não particular? E porquê
nem sequer um nome
que desse rosto à miséria comum?
E não havia ninguém que se salvasse na enxurrada?
A democracia? Quem eram estes,
a Agustina, o Ruben A.?
Gente que medrava na naftalina dos privilegiados
de até setenta e quatro.
Eram os mesmos, antes e depois, figuras
do poder e da complacência.
Não seria ingénua,
evitaria profissões de fé
nessa coisa escura e esconsa
a que chamavam literatura portuguesa
(sem leitores, sem dignidade,
sem crítica que merecesse esse nome)
e que há muito vegetava
em estratégias químicas de sobrevivência.
Recusava o formol, mas não acabaria na vala comum.