Distribuir ódio

Já tinha reparado.

O ódio, como o medo ou a mediocridade,

espalhava-se pelo espaço público

(os lugares da comunidade?) como

mancha de óleo sobre o chão de chuva.

Os números (para usar um lugar-comum

do jargão jornalístico — parecia pobre,

mas os lugares-comuns seriam só palavras

que se ofereciam de forma generosa,

permitindo-nos esquecer a linguagem

e focar-nos nos problemas)

eram assustadores:

O número de crimes de ódio em Portugal

aumentou 38% em 2023

em comparação com 2022,

segundo dados recolhidos pela Lusa

junto da PSP e da GNR.

Talvez,

quanto a isso,

alguém tivesse algo a dizer.

Os supostos poetas, por exemplo. Ou

talvez fossem eles

o verdadeiro lugar-comum

—  a frase feita, não a comunidade.