Chegava a acreditar
que aquilo que dissesse numa língua
encontraria em outra,
se não o seu equivalente claro,
sequer o som, o ritmo, o dizer
por aproximação,
ao menos, deturpando o original,
numa epifania do erro e mal-entendido,
o sentido,
para dizer o que ela nunca
dissera, mostrar o que ela
não vira e não confessara.
E talvez, ocorria-lhe,
alguém (olhos, língua,
consciência?) habitasse o vazio
que ia de um idioma ao outro,
o fizesse seu e,
estendendo os dedos,
ocupasse o espaço do desfasamento,
como na arena o sangue preenche
os interstícios da areia.