Dunning–Kruger effect
Não encontrava outra explicação,
estava lá tudo — a definição própria
da literatura. Do que escrevia,
pelo menos: o viés cognitivo,
a crença cega nas capacidades
(as suas, as da língua,
as dos olhos, as dos dedos que
soletravam sílabas),
e a percepção distorcida do desempenho.
A ignorância, diziam-lhe, produz
mais confiança do que o conhecimento.
Mas a arrogância, poderia acrescentar,
é a lama da qual emerge o mundo.
O dizer
sem saber o que diz, o escrever
sem o que escrever, o ler, o ver, o tocar,
a divergência, o equívoco,
a falha consentida do desfasamento:
não, já não,
ainda não, ainda nunca.
Não era um erro de percepção.