28.6.24

Literatura, exame post mortem


Agia (assumia a sua ingenuidade,
mas era mais, ameaçava idiotia,
a inocência lerda de quem acredita
que os outros são capazes
de acreditar,
de quem entrega as mãos, os olhos,
e o melhor dos anos, olhos nos olhos
da apatia) como se isso
que aprendera a designar por
literatura
ainda existisse. Pudesse existir,
como existem ao menos
os corpos para autópsia e dissecação.
Cadáveres em  quem
se reconhecem restos de humanidade,
órgãos, tecidos,
um rasto de alma antes
de se afundar no escuro.