14.10.24


Amor, babel e a solidão da língua

L’amour, est-ce se faire cadeau 
l’un à l’autre
de sa propre solitude?
Seria isso, perguntava, duplicando a pergunta
e fazendo da dúvida
uma forma afável de complacência. Seria isso,
repetia (estava, repare-se, a ler Clarisse Lispector
na tradução francesa,
poderia tentar uma retroversão,
mas era provável que o resultado não respeitasse
o original:
Será o amor dar de prenda
um ao outro
a sua própria solidão?
Ou, noutra versão:
Será o amor fazer presente
ao outro
a sua solidão?
Ou ainda, cada vez mais distante: 
Será o amor devolver
ao outro
a solidão?
Estava certamente errada. Talvez houvesse
um talvez na frase. Tinha o livro na estante,
não iria confirmar), aquilo que lhe prometiam?