De gueto em gueto
Não me entendam mal. Não quero
pregar o amor,
escreve Theodor Adorno,
em Educação após Auschwitz,
onde mais uma vez procura pensar
a barbárie inscrita no coração da Europa.
Penso que a sua pregação é inútil,
prossegue,
pois as pessoas que devemos amar
são elas próprias incapazes de amar.
E como, de facto, amar aqueles
que não sabem amar?
Teria razão, antes do tempo,
o judeu exilado: a deficiência de amor
pertencerá a todos, sem excepção,
e ela via como, oito décadas depois,
aqueles que tinham sofrido
o gueto de Varsóvia eram eles próprios,
frios e sem memória,
os responsáveis pelo gueto de Gaza.
Todos o víamos.