Autrement dit,
escreve Derrida, numa nota à margem
ao seminário Répondre — du secret,
1991-1992
(e onde estava ela, então?
Que infância, que candura,
que estado duro e quase
pré-verbal
se abrigaria ainda nos seus olhos?).
Autrement dit, pois,
ce n’est pas la confession d’une faute,
c’est la confession comme faute:
la trahison consiste à se confesser.
Supunha saber ao que ele se referia.
Falava de traição como quem teme
trair-se a si mesmo. Na língua e pela língua,
nas palavras e pelas palavras,
no som, na grafia, na gramática,
no espaço intermédio
entre a garganta e o céu da boca. Lábios,
pele, pregas, dobras, invaginação
dos tecidos moles.
Um tempo pago à peça, um intervalo,
lugar de passagem para homens, animais
e criaturas conscientes.