Amarelo morte
A doçaria conventual,
estava cada vez mais convencida disso,
era a memória viva da violência
e da sujeição. A sombra de séculos
de opressão e iniquidade, que se ocultava
no amarelo ovo da massa mole.
O espectro da clausura e das mulheres
reprimidas, mortas em vida,
na promessa de um céu que nunca
tocariam,
mas mastigável como o caminho
que trazia o açúcar
(o veneno mortal do capitalismo)
até às cozinhas dos conventos.
Os sacos chegavam sempre sujos,
manchados do saque e do sangue,
do cativeiro, da escravatura e do estupro,
do inumano da economia de plantação.
Da fome de uns e do luxo dos outros.
Da soberba, da sujeição de quem
entrega a alma
por não ter como pagar ao barqueiro.