Estudos literários — o século XXI
Resultado da autocomplacência,
do desleixo e do surrealismo serôdio,
a poesia portuguesa tinha-se transformado
numa coisa cansada, que nunca se negava
ao que lhe pediam.
Ninguém exigia muito, era o que oferecia.
Haveria entrega e empenho,
mas quase sempre a incompetência
ocupava aquilo que teria sido
espaço de exigência e de sobressalto.
Seria possível uma história da época,
sem se lhe referir. Era prescindível,
e isso nem chegava a ser acusação.
Constatava-se, com um encolher de ombros.
Alguém seria capaz de lhe dizer o que é que,
de facto, a maior parte dos poetas
(respeitava-os a todos, cada um, cada uma,
não era isso que estava em causa)
tinha para dizer? Do que é que falavam,
qual o mundo que mostravam para lá umbigo
— o próprio, o da língua e de uma muito pobre
ideia de poesia?