Insistia. Fazia de conta,
escondendo a suspeita de que continuava
(continuávamos todos, os cada vez menos
que perfaziam o todos — quase ninguém.)
a fingir que isto tinha alguma importância:
mastigar palavras, alinhá-las no papel,
no ecrã, acumulá-las, imprimi-las,
publicar, vender, comprar,
alimentando a marcha de um autómato
(ou da caricatura de um autómato.
Sem olhos, sem boca,
sem mãos sequer capazes de modelar
no escuro uma alma de lama) que
progredia por reflexo e inércia.
Algum dia alguém o pusera em movimento,
e ele (ela? Era indiferente, o género.)
continuaria a caminhar até tombar.
Ou já tinha tombado, e apenas os crentes
se obstinavam em não ver a queda,
amparando-lhe o passo e supondo que,
porque caminhava, mesmo cadáver
ainda poderia prosseguir.
Mas o mundo já estava em outro lugar.