Aquilo começava a causar confusão.
Não reconhecia a cidade. Precisava de saber
quem era quem. Entre brancos e pretos,
a distinção era clara. Entre pretos e pardos,
também não tinha dúvidas. Mas havia os dúbios
e havia problemas. Quem eram,
de onde vinham, em que Deus acreditavam.
Cruzávamo-nos na rua
e não sabíamos com o que contar,
quais os riscos, as ameaças. Já lhe ocorrera
(não seria má ideia,
todos transportávamos símbolos,
— os do clube, os do partido. A cruz,
a própria aliança no dedo) ocorrera-lhe,
portanto,
se não poderíamos obrigá-los
(não havia razões para protestarem,
se vinham, tinham obrigações) a prender
na roupa, carros e casas, um símbolo
que os identificasse. Um crescente, por exemplo,
para os muçulmanos, um Om para os hindus,
uma estrela para os judeus. A foice e o martelo,
para os comunistas, se ainda restasse algum.
E outra coisa qualquer para os brasileiros.
Sim, um símbolo seria solução. Uma marca,
ninguém teria vergonha de ser quem era.